Os Estados Unidos viraram um fundo de IA?
- Gabriel Rabinovici

- 13 de out.
- 2 min de leitura
A economia americana segue surpreendendo: crescimento sólido, desemprego baixo e bolsas em máximas históricas — tudo isso mesmo com juros ainda elevados e um ambiente global bem mais fraco. A aparente contradição tem uma explicação cada vez mais clara: os Estados Unidos se transformaram, em boa medida, numa grande aposta alavancada em inteligência artificial.
Boa parte do dinamismo recente vem de um único vetor. Nos últimos trimestres, quase todo o crescimento do PIB veio do investimento corporativo em tecnologia e software ligados à IA. Fora desse universo, a atividade praticamente não andou. A chamada “nova economia” está compensando o que a “velha economia” deixou de entregar.
O reflexo disso está nas bolsas. As sete maiores empresas — Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet, Meta, Nvidia e Tesla — já representam mais de um terço do S&P 500, um nível de concentração sem precedentes. O caso da Nvidia é emblemático: tornou-se a face visível de uma revolução tecnológica que promete ganhos de produtividade e eficiência, mas também carrega enorme expectativa embutida nos preços.

A questão é se essa aposta vai se sustentar. Se a IA realmente entregar o que promete, o impacto pode ser comparável ao da internet ou até da eletricidade: aumento de produtividade, redução de custos, avanço em setores como saúde, energia e transporte. Mas se o entusiasmo estiver adiantado demais em relação à realidade, o ajuste pode ser severo — com efeitos diretos sobre o valor de mercado, o emprego e até as finanças públicas.
O que se desenha, portanto, é uma economia de dois ritmos: um núcleo de empresas e setores acelerando com a IA, e o restante tentando não ficar para trás. Para o investidor, isso reforça a necessidade de equilibrar convicção com prudência — participar do tema, mas sem esquecer que toda revolução tecnológica também carrega ciclos de euforia e correção.
No fim, talvez Nouriel Roubini tenha razão ao dizer que “tech trumps tariffs”: tecnologia fala mais alto do que política industrial. Mas, como toda aposta concentrada, essa também tem prazo e preço. E, por enquanto, os EUA parecem mais um fundo de IA do que uma economia diversificada.
Essa publicação não é uma recomendação de investimento.



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